Histórias inglesas de Caprioli – 2

A Lenda de Beowulf (2ª parte)

retrato-caprioliApresentamos seguidamente a 2ª e última parte de “A Lenda de Beowulf” (The legend of Beowulf), uma das mais belas histórias ilustradas por Caprioli no período em que foi colaborador da agência de Alberto Giolitti (anos 60), e também a última que realizou para revistas inglesas.

Nessa época, à míngua de trabalho na sua própria terra, depois da crise que atingiu o Il Vittorioso — a revista onde tinha publicado algumas das suas melhores obras, durante as férteis décadas de 1940 e 1950 —, Caprioli viu-se forçado, para sobreviver economicamente, a seguir o exemplo de muitos outros desenhadores italianos, recorrendo aos editores estrangeiros, sobretudo aos do Reino Unido, que pagavam bem e lhe abriram as páginas de revistas de grande circulação, como Ranger, Look and Learn, Lion, TigerTina e outras.

No mercado inglês de publicações juvenis, cada vez mais pujante na década de 1960, o único senão era a forma rígida de trabalhar de alguns editores, que deixavam aos autores pouca margem de manobra, controlando todo o processo de produção, desde os primeiros esboços até à fase final, e sobrecarregando as vinhetas com textos (quase sempre) excessivos. Além disso, impunham à maioria dos seus colaboradores o mais completo anonimato, como forma de melhor assegurarem a exclusividade do seu trabalho, que podiam reeditar todas as vezes que lhes apetecesse, sem que os autores tirassem disso o menor rendimento.

caprioli-anafi-1Por portas e travessas, estes, embora recebessem em libras esterlinas e fossem mais bem pagos do que noutros países, acabavam por ficar prejudicados. Quanto aos originais, nem pensar em reavê-los… E raramente os desenhadores residentes no estrangeiro, muitos a operar através de agências que lhes cobravam uma percentagem, tinham conhe- cimento das revistas onde as suas obras eram publicadas. No caso de Caprioli, nunca o mestre italiano deve ter posto a vista nesses trabalhos, depois de impressos, realizados em condições que certamente o confrangiam, embora lhe garantissem o bem-estar econó- mico, e que só foram conhecidos em Itália muitos anos depois, já expirado o século em que viveu e produziu tantas obras- -primas, graças ao intenso labor de sua filha Fulvia e de editores como a ANAFI (Associazione Nazionale Amici del Fumetto e dell’Illustrazione).

Recordamos, a finalizar este texto, que “A Lenda de Beowulf” foi publicada em Portugal no Mundo de Aventuras nº 103, 2ª série (18/9/1975), de onde reproduzimos as páginas que se seguem.

(Nota: para ver/ler estas magníficas páginas de Caprioli em toda a sua extensão, clicar duas vezes sobre as imagens).

Histórias inglesas de Caprioli – 1

A Lenda de Beowulf (1ª parte)

Já aqui falámos — a propósito da versão de Moby Dick (um dos romances com temas marítimos preferidos de Caprioli) realizada para a revista inglesa Ranger — da ecléctica e, em muitos casos, desconhecida obra que, nos anos 60, à míngua de trabalho na sua própria terra, depois do desaparecimento do Il Vittorioso, o grande mestre italiano teve de produzir para o ainda florescente mercado inglês.

Entre os exemplos já mencionados — com realce para Moby Dick, Os Argonautas e A Lenda de Beowulf, três histórias publicadas em revistas portuguesas, nos anos 1970 —, é digno também de apreço um episódio da emblemática série Olac the Gladiator («Olac, o Gladiador»), estreado, a cores, no almanaque anual do semanário Tiger (1961-62) e que o Pim-Pam-Pum (suplemento infantil do jornal O Século) divulgou também entre nós, em meados dos anos 1960 (*).

São alguns desses trabalhos, em que continua patente a extraordinária beleza da arte gráfica de Caprioli, que iremos apresentar, nalguns casos directamente reproduzidos das versões originais, noutros das revistas portuguesas onde tiveram esporádica tradução, como Mundo de Aventuras, Selecções, Condor Popular, Ciclone, Tarzan, Jornal do Cuto e O Preço do Triunfo.

ma-103Foi no nº 103, de 18 de Setembro de 1975, que o nome de Caprioli surgiu pela primeira vez, em grande destaque, nas páginas do Mundo de Aventuras (2ª série), com uma magnífica história realizada para o semanário Look and Learn nºs 440-451 (1970): “A Lenda de Beowulf” (The Legend of Beowulf), adaptação de um célebre conto mitológico de raízes saxónicas, onde Caprioli teve oportuni- dade de exibir o seu melhor estilo (com o famoso pontilhado), em vinhetas recheadas de imagens e peripécias memoráveis.

Pormenor curioso: na segunda vinheta da página 3, o modelo de uma das figuras femininas foi a sua própria filha Fulvia, que nessa época tinha 18 anos. Trata-se do último trabalho realizado pelo mestre italiano para revistas inglesas, pois a desvalorização da libra tinha-se reflectido também nesse mercado, tornando-o economicamente menos compensador para os desenhadores estrangeiros.

Além disso, não lhe faltavam outras oportunidades, oferecidas pela editora do Il Giornalino, um dos mais antigos e populares semanários juvenis italianos, que redescobriu o valor de Caprioli nas adaptações que este fez de algumas obras literárias de autores célebres, em especial do sempiterno Jules Verne.

(*) – Dezenas de anos depois, esse episódio de Olac, o Gladiador teve nova impressão, com as cores originais, num fanzine editado pela Câmara Municipal de Moura, no âmbito do seu Salão de BD de 2012 e da grande exposição comemorativa do centenário do “desenhador poeta”, cujos comissários foram Luiz Beira e Carlos Rico. Fanzine esse que ainda pode ser encomendado aos serviços administrativos daquela edilidade ou directamente a Carlos Rico, através do e-mail carlos.rico@cm-moura.pt

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